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31 de outubro de 2011

Vamos redobrar o cuidado em nossas casas, olha o perigo aí..............

Vírus 4 da dengue à espreita

Receio de uma epidemia leva os governos federal e estadual a aumentar o volume de recursos para prevenção da doença no Paraná
Publicado em 31/10/2011 | Dâmaris Thomazini
Preocupados com uma nova epidemia de dengue causada pela circulação do vírus tipo quatro (DEN-4), as autoridades federais e estaduais reforçaram o orçamento para o combate à doença no Paraná. Do governo do estado serão mais R$ 1,5 milhão para 24 municípios contratarem agentes de endemias. O Ministério da Saúde, que até outubro havia enviado ao Paraná mais de R$ 40 milhões do fundo de Vigilância em Saúde – 90% dele destinados ao combate ao mosquito Aedes aegypti, o transmissor da dengue – irá repassar mais R$ 2,5 milhões para 88 municípios do estado considerados prioritários na prevenção à epidemia. Ao todo, R$ 90 milhões serão repassados para 989 municípios brasileiros.
O investimento extra se soma a recursos que vêm aumentando nos últimos anos. De 2008 a 2010, o repasse do Ministério da Saúde para combater a dengue no Paraná cresceu 14%. Já o governo do estado, segundo a Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa), gastou em 2008 R$ 1,2 milhão e, em 2011, o investimento está em R$ 9,7 milhões – elevação superior a 708%.
Fique alerta
Saiba identificar os sintomas das duas versões da doença:
Dengue clássica
- Febre alta com duração de 2 a 7 dias
- Dor de cabeça
- Dor no corpo e nas juntas
- Dor atrás dos olhos
- Manchas vermelhas pelo corpo
Dengue hemorrágica
- Dores na barriga fortes e contínuas
- Vômitos persistentes
- Sangramento pelo nariz, boca e gengivas
- Sede excessiva e boca seca
- Todos os outros sintomas da forma clássica
Primeira vacina deve sair só em 2014
Themys Cabral
São Paulo - A primeira vacina contra a dengue deve ser disponibilizada à população apenas em 2014. Essa é a previsão do laboratório Sanofi Pasteur. Várias vacinas contra a doença estão sendo desenvolvidas, mas a da Sanofi é hoje a que se encontra em estágio mais adiantado de estudos. Em agosto deste ano, o laboratório iniciou a parte final dos estudos clínicos de eficácia no Brasil. Essa fase – a última antes de o produto ser submetido aos órgãos regulatórios para licença – deve durar cerca de 48 meses. A pesquisa é multicêntrica e é realizada em vários países do mundo.
A vacina em estudo, administrada em três doses, com intervalos de seis meses entre cada aplicação, já vem sendo desenvolvida há cerca de 20 anos. Aproxima­­damente 45 mil pessoas participam do estudo clínico da Sanofi em 15 países. O Brasil tem um papel primordial na pesquisa, já que colabora com 4 mil voluntários.
De acordo com o diretor regional da pesquisa e desenvolvimento para a América Latina da Sanofi Pasteur, Petro Garbes, a vacina contra a dengue é um desafio. “Não é uma vacina contra um vírus, mas contra quatro sorotipos diferentes da dengue”, explica.
No início, a vacina era produzida com vírus da dengue atenuado. Mas as pesquisas revelaram uma incidência alta da chamada síndrome de dengue, uma espécie da doença em forma atenuada. Para evitar esse problema, o laboratório passou então a investir numa vacina que utiliza parte do vírus da febre amarela e parte dos quatro vírus da dengue. “A ‘casquinha’ é do vírus da dengue e a ‘máquina’ é a do vírus da febre amarela”, simplifica Pedro.
A repórter viajou a convite da Sanofi Pasteur
“O repasse extra programado pelo ministério varia de acordo com o número de habitantes e a maioria dos municípios beneficiados se concentra nas regiões Norte, Oeste e Noroeste do estado. Não é uma quantidade muito grande, mas será importante para a estrutura de combate à doença”, explica o superintendente de Vigilância em Saúde da Sesa, Sezifredo Paz. Até outubro, o estado teve 28 mil casos confirmados da doença (veja quadro ao lado). Em 2010 foram 33 mil casos confirmados nos municípios paranaenses – cerca de 80% deles nos municípios de Lon­­drina, Cornélio Procópio, Jacarezinho e Foz do Iguaçu.
Segundo Paz, o maior receio durante a próxima temporada de verão é com o DEN-4. Ainda que não seja mais forte ou mais grave que os demais tipos do vírus, a maioria dos brasileiros não desenvolveu imunidade a ele. “Registramos três casos importados de dengue tipo quatro no Paraná este ano e a preocupação é grande, pois nossa população não foi exposta a esse tipo de vírus, o que pode contribuir para o aumento de casos graves da doença, como a dengue hemorrágica”, explica.
De acordo com o coordenador do Laboratório de Cli­­matologia (Laboclima) da Uni­­ver­­sidade Fe­­deral do Paraná (UFPR), Francisco Mendonça, os quatro tipos de vírus têm características genéticas diferentes devido à resistência adquirida ao longo dos anos. “Todos eles são mutações do mesmo vírus que, enquanto não são erradicados, encontram formas de adaptação e ficam mais fortes. A gravidade dos sintomas depende de nossa resistência imunológica”, esclarece.
O coordenador do Laboclima explica que, apesar do grande número de casos de dengue no último ano, a doença é subnotificada. “Estima-se que o número de pessoas atingidas pela dengue seja até 10 vezes maior do que o registrado, pois muitas pessoas, principalmente aquelas de baixa renda, não acham que os sintomas da doença (febre alta, dores no corpo, dor de cabeça, entre outros) sejam motivos para buscar um médico”, afirma.
Prazo para apresentar plano preventivo vai até dezembro
Para receber o repasse de 20% do Piso Fixo de Vigilância e Promoção da Saúde (PFVP), os 88 municípios do estado precisam apresentar um plano com as medidas que serão tomadas para qualificar as ações de controle da doença. Os valores devem ser disponibilizados às cidades até o fim de dezembro.
Jacarezinho e Cornélio Procó­­pio, ambos com menos de 50 mil habitantes, podem receber, respectivamente, R$ 16 mil e R$ 19 mil. O primeiro município teve 3.609 casos confirmados da doença em 2011, com o registro de seis mortes. Segundo o diretor da Vi­­gilância Sanitária de Jacarezinho, Luiz Carlos Ferreira, o montante ajudará somente se não houver uma nova epidemia. “O valor vem em boa hora para intensificar as ações de prevenção, mas, em caráter epidêmico, esse valor não é nada. Só poderemos comemorar os resultados desse esforço e do nosso trabalho depois de fevereiro, quando o risco de transmissão começa a cair. Este ano não tivemos o que comemorar, só o que lamentar”, avalia. O município, que até o fim de 2010 tinha uma equipe de 15 pessoas para atuar no controle da doença, hoje tem 35.
Em Cornélio Procópio – que em 2011 soma 2.949 casos de dengue –, o trabalho de prevenção foi fortalecido após a cidade contabilizar o terceiro maior número de infectados no estado. Ano passado, o município contava com dez agentes para controle da doença. Hoje, o trabalho de prevenção é realizado por 24 pessoas, mas durante o pior momento da epidemia – de dezembro a julho – 40 agentes trabalharam para eliminar os criadouros do mosquito na cidade. “Foi um período muito complicado, os hospitais ficaram lotados de pacientes infectados, pessoas foram transferidas para outras cidades e somente casos graves eram internados”, lembra o coordenador dos agentes de endemia de Cornélio, Eliseu Rocha.
Segundo ele, o repasse do governo federal dará suporte às rotinas de prevenção e também poderá ser utilizado no investimento em recursos humanos e equipamentos. “Se houver uma situação de epidemia como no último ano, isso poderá ser utilizado para a contratação emergencial de agentes, pois o mais importante é eliminar os criadouros. Se não fi­­zermos nosso trabalho e se a população não aderir às campanhas, a epidemia pode se repetir”, explica ele, lembrando que neste ano o fumacê, último recurso contra a dengue, precisou ser utilizado de fevereiro a maio.
Reforço
Maringá, único município entre 300 mil e 500 mil habitantes na lista dos 88 beneficiados deve receber cerca de R$ 240 mil. “Hoje temos 165 agentes e abrimos concurso para contratar mais 60. O recurso é um reforço que ajuda a manter a estrutura de combate à doença e também a desenvolver ações que não se restringem so­­mente à saúde, mas também às campanhas educativas para a população”, explica o secretário de Saúde de Maringá, Antônio Carlos Nardi. Na próxima quarta-feira haverá a campanha “Finados sem dengue”. Segundo Nardi, agentes da Vigilância Sanitária vão barrar a entrada de vasos e potes plásticos que possam acumular água nos cemitérios e servir de criadouro para o mosquito.