Um diagnóstico sob suspeita
Teste de sangue que checa a dosagem de PSA não teria eficiência garantida no rastreamento do câncer de próstata. Posicionamento é considerado polêmico
Uma recomendação da Força Tarefa de Saúde Preventiva dos Estados Unidos (USPSTF) pretende mudar a forma como o câncer de próstata é rastreado entre os americanos. No início de outubro, a USPSTF publicou uma recomendação contrária ao uso do exame de sangue que checa a dosagem de PSA (antígeno prostático específico), independente da idade do paciente, como forma de indicar a possível incidência desse tipo de câncer.
Por ser um marcador que pode tanto sinalizar a ocorrência de câncer como a presença de problemas inflamatórios na próstata, o uso do PSA contribuiria para a exposição dos pacientes a procedimentos invasivos diante de uma suspeita de câncer, como as biópsias – única forma de confirmar o diagnóstico –, além de prejuízos psicológicos diante de um falso positivo.
• A mortalidade e a incidência da doença aumentam após os 50 anos;
• Homem com pai ou irmão que tem câncer de próstata possui de 3 a 10 vezes mais risco de desenvolver a doença;
• Uma dieta rica em gordura de origem animal aumenta o risco de câncer de próstata – além de acarretar outros problemas de saúde como as doenças cardiovasculares;
• O câncer de próstata é 1,6 vezes mais comum em homens negros.
Fonte: Ministério da Saúde e Inca
“A maior incidência de câncer de próstata acontece em pacientes acima dos 60 anos, no entanto o desenvolvimento da doença ocorre de forma mais lenta em pessoas mais idosas. Em homens de 40 anos, o câncer é mais agressivo, por isso a necessidade do diagnóstico precoce”, justifica o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Eduardo José Andrade Lopes.
O câncer de próstata não apresenta sintomas em seus estágios iniciais e esperar o corpo apresentá-los para buscar um urologista coloca a vida do paciente em risco. “Sentir dor, dificuldade ou urgência para urinar já são sinais de complicação da doença, pois o câncer de próstata é indolor”, alerta o professor de Urologia do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Carlos de Almeida Rocha.
Assim como não se deve aguardar pelos sintomas para buscar tratamento, não é recomendável esperar o paciente apresentar alteração no PSA para diagnosticar o problema, pois alguns homens têm tumores tocáveis sem apresentar disfunção no PSA. A doença não tratada ou descoberta tardiamente acarreta complicações irreversíveis para o corpo como a metástase, quando o câncer se espalha para outros órgãos.A conclusão do estudo, publicada nos Anais de Medicina Interna (annals.org), afirma que o “teste do PSA resulta em uma redução pequena ou nula na mortalidade do câncer de próstata e está associado a danos relacionados aos tratamentos e avaliações posteriores, que podem ser desnecessários”.
Proteína
O PSA é uma proteína exclusivamente masculina produzida pela próstata (99%) e pelas glândulas da uretra (1%). Lançada no sangue em pequenas quantidades, sua função principal é nutrir os espermatozoides, fornecendo energia para que eles alcancem o óvulo. “Quando a próstata aumenta de tamanho, a produção de PSA também cresce. Com a presença de células cancerígenas na glândula, sua produção chega a ser dez vezes maior do que o normal”, explica o secretário geral da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Eduardo José Andrade Lopes.
Lopes considera a contestação do exame por parte dos americanos um retrocesso, pois segundo ele, o PSA, usado desde 1994 para a detecção do câncer de próstata, foi capaz de salvar muitas vidas. “Antes dele, a única forma de detectar o câncer era pelo exame de toque. Porém, quando o médico percebia a alteração da próstata, o problema poderia estar em estágio avançado”, esclarece.
De acordo com o secretário da SBU, ainda que o exame de toque não encontre anormalidades na próstata, um PSA alto indica que algo está errado com a glândula, ajudando no diagnóstico precoce e na descoberta de células cancerígenas microscópicas após uma biópsia. “Se descoberto no início, a chance de cura deste tipo de câncer é de 93%. Antes do PSA, era somente de 30 a 40%”, comenta.
Toque
Apesar das vantagens deste exame que custa entre R$ 18 e R$ 50, a checagem do PSA não substitui o exame de toque e nem deve ser feita de forma indiscriminada. “Isso levantaria muitas suspeitas de câncer. O aumento do PSA também serve para indicar inflamações na próstata e traumatismo na uretra, por isso é preciso que o exame seja feito com critério para diagnosticar câncer. Se for acompanhado pelo exame de toque e pela análise clínica no paciente, aí ele tem valor”, esclarece o professor de Urologia do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Carlos de Almeida Rocha.
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, este ano, mais de 240 mil americanos serão diagnosticados com câncer de próstata – que só perde para o câncer de pele em número de incidência. Esse ranking se repete no Brasil, onde, de acordo com Instituto Nacional de Câncer brasileiro (Inca), a doença matou 11.955 homens em 2008.
Salvo pelo PSA
Depois de passar pelo exame de toque sem detecção de alterações na próstata, foi o exame de PSA que há um ano deu ao professor universitário Zeli da Conceição, 55 anos, a primeira indicação da presença de um tumor na glândula. Em situações ideais, a quantidade da substância no sangue deve ser menor do que um. Quando o valor passa de quatro ou aumenta 30% de um ano para outro, soa o sinal de alerta.
“Sempre fiz todos os exames regularmente e de um ano para o outro o PSA subiu um ponto, mas ficou dentro dos números considerados normais. Depois da biópsia, a confirmação de câncer foi uma surpresa. Para mim o exame foi fundamental, pois identificou a doença em uma fase muito inicial, com viabilidade de ser tratada”, afirma o professor.
Diante de uma dosagem elevada de PSA, o exame precisa ser confirmado e refeito por um segundo laboratório. “A checagem evita a realização de biópsias desnecessárias, que é um procedimento invasivo para coleta de tecidos da próstata, feito com agulhas guiadas por ultrassom com o paciente sob efeito de anestésicos”, explica Lopes.
Em fevereiro, Conceição começou o tratamento contra a doença com a braquiterapia, procedimento que consiste na inserção de sementes radioativas do tamanho de grãos de arroz diretamente na próstata do paciente. O material permanece dentro da glândula para sempre e seu objetivo é destruir os tecidos cancerígenos. “Recebi 98 sementes e o meu PSA caiu para menos de um, número que nunca tive antes”, conta o professor.
A cirurgia para a retirada da próstata e a radioterapia externa são outras opções para o tratamento e para a cura da doença, mas muitos pacientes temem se submeter a esses procedimentos devido aos efeitos colaterais como a incontinência urinária e a impotência sexual.
“A radioterapia é um tratamento diário que dura cerca de 38 dias e consiste na emissão de feixes de radiação para a região da próstata. Com avanços tecnológicos como a radioterapia guiada por imagem (IGRT), o tempo de tratamento pode cair para 22 dias, pois o aparelho localiza a área a ser tratada com a possibilidade de aplicação de doses mais altas de radiação”, explica o radio-oncologista do Hospital Angelina Caron, Carlos Pereira Neto.
O equipamento de IGRT custa cerca de 2,8 milhões de dólares e dois deles serão usados a partir de hoje pelo hospital, em sua unidade em Curitiba. O SUS ainda não cobre esse tipo de procedimento.
Por ser um marcador que pode tanto sinalizar a ocorrência de câncer como a presença de problemas inflamatórios na próstata, o uso do PSA contribuiria para a exposição dos pacientes a procedimentos invasivos diante de uma suspeita de câncer, como as biópsias – única forma de confirmar o diagnóstico –, além de prejuízos psicológicos diante de um falso positivo.
Incidência
Confira quais são os grupos e os comportamentos de risco em relação ao câncer de próstata:• A mortalidade e a incidência da doença aumentam após os 50 anos;
• Homem com pai ou irmão que tem câncer de próstata possui de 3 a 10 vezes mais risco de desenvolver a doença;
• Uma dieta rica em gordura de origem animal aumenta o risco de câncer de próstata – além de acarretar outros problemas de saúde como as doenças cardiovasculares;
• O câncer de próstata é 1,6 vezes mais comum em homens negros.
Fonte: Ministério da Saúde e Inca
Rotina de testes deve começar aos 40 anos
Homens com histórico de câncer de próstata na família devem começar a rotina de exames de detecção da doença a partir dos 40 anos de idade. Aqueles que não possuem registros do problema entre os familiares devem iniciar a partir dos 45 anos. Os exames anuais envolvem o PSA (sangue) e o toque – um não exclui o outro.“A maior incidência de câncer de próstata acontece em pacientes acima dos 60 anos, no entanto o desenvolvimento da doença ocorre de forma mais lenta em pessoas mais idosas. Em homens de 40 anos, o câncer é mais agressivo, por isso a necessidade do diagnóstico precoce”, justifica o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Eduardo José Andrade Lopes.
O câncer de próstata não apresenta sintomas em seus estágios iniciais e esperar o corpo apresentá-los para buscar um urologista coloca a vida do paciente em risco. “Sentir dor, dificuldade ou urgência para urinar já são sinais de complicação da doença, pois o câncer de próstata é indolor”, alerta o professor de Urologia do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Carlos de Almeida Rocha.
Assim como não se deve aguardar pelos sintomas para buscar tratamento, não é recomendável esperar o paciente apresentar alteração no PSA para diagnosticar o problema, pois alguns homens têm tumores tocáveis sem apresentar disfunção no PSA. A doença não tratada ou descoberta tardiamente acarreta complicações irreversíveis para o corpo como a metástase, quando o câncer se espalha para outros órgãos.
Proteína
O PSA é uma proteína exclusivamente masculina produzida pela próstata (99%) e pelas glândulas da uretra (1%). Lançada no sangue em pequenas quantidades, sua função principal é nutrir os espermatozoides, fornecendo energia para que eles alcancem o óvulo. “Quando a próstata aumenta de tamanho, a produção de PSA também cresce. Com a presença de células cancerígenas na glândula, sua produção chega a ser dez vezes maior do que o normal”, explica o secretário geral da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Eduardo José Andrade Lopes.
Lopes considera a contestação do exame por parte dos americanos um retrocesso, pois segundo ele, o PSA, usado desde 1994 para a detecção do câncer de próstata, foi capaz de salvar muitas vidas. “Antes dele, a única forma de detectar o câncer era pelo exame de toque. Porém, quando o médico percebia a alteração da próstata, o problema poderia estar em estágio avançado”, esclarece.
De acordo com o secretário da SBU, ainda que o exame de toque não encontre anormalidades na próstata, um PSA alto indica que algo está errado com a glândula, ajudando no diagnóstico precoce e na descoberta de células cancerígenas microscópicas após uma biópsia. “Se descoberto no início, a chance de cura deste tipo de câncer é de 93%. Antes do PSA, era somente de 30 a 40%”, comenta.
Toque
Apesar das vantagens deste exame que custa entre R$ 18 e R$ 50, a checagem do PSA não substitui o exame de toque e nem deve ser feita de forma indiscriminada. “Isso levantaria muitas suspeitas de câncer. O aumento do PSA também serve para indicar inflamações na próstata e traumatismo na uretra, por isso é preciso que o exame seja feito com critério para diagnosticar câncer. Se for acompanhado pelo exame de toque e pela análise clínica no paciente, aí ele tem valor”, esclarece o professor de Urologia do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Carlos de Almeida Rocha.
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, este ano, mais de 240 mil americanos serão diagnosticados com câncer de próstata – que só perde para o câncer de pele em número de incidência. Esse ranking se repete no Brasil, onde, de acordo com Instituto Nacional de Câncer brasileiro (Inca), a doença matou 11.955 homens em 2008.
Salvo pelo PSA
Depois de passar pelo exame de toque sem detecção de alterações na próstata, foi o exame de PSA que há um ano deu ao professor universitário Zeli da Conceição, 55 anos, a primeira indicação da presença de um tumor na glândula. Em situações ideais, a quantidade da substância no sangue deve ser menor do que um. Quando o valor passa de quatro ou aumenta 30% de um ano para outro, soa o sinal de alerta.
“Sempre fiz todos os exames regularmente e de um ano para o outro o PSA subiu um ponto, mas ficou dentro dos números considerados normais. Depois da biópsia, a confirmação de câncer foi uma surpresa. Para mim o exame foi fundamental, pois identificou a doença em uma fase muito inicial, com viabilidade de ser tratada”, afirma o professor.
Diante de uma dosagem elevada de PSA, o exame precisa ser confirmado e refeito por um segundo laboratório. “A checagem evita a realização de biópsias desnecessárias, que é um procedimento invasivo para coleta de tecidos da próstata, feito com agulhas guiadas por ultrassom com o paciente sob efeito de anestésicos”, explica Lopes.
Em fevereiro, Conceição começou o tratamento contra a doença com a braquiterapia, procedimento que consiste na inserção de sementes radioativas do tamanho de grãos de arroz diretamente na próstata do paciente. O material permanece dentro da glândula para sempre e seu objetivo é destruir os tecidos cancerígenos. “Recebi 98 sementes e o meu PSA caiu para menos de um, número que nunca tive antes”, conta o professor.
A cirurgia para a retirada da próstata e a radioterapia externa são outras opções para o tratamento e para a cura da doença, mas muitos pacientes temem se submeter a esses procedimentos devido aos efeitos colaterais como a incontinência urinária e a impotência sexual.
“A radioterapia é um tratamento diário que dura cerca de 38 dias e consiste na emissão de feixes de radiação para a região da próstata. Com avanços tecnológicos como a radioterapia guiada por imagem (IGRT), o tempo de tratamento pode cair para 22 dias, pois o aparelho localiza a área a ser tratada com a possibilidade de aplicação de doses mais altas de radiação”, explica o radio-oncologista do Hospital Angelina Caron, Carlos Pereira Neto.
O equipamento de IGRT custa cerca de 2,8 milhões de dólares e dois deles serão usados a partir de hoje pelo hospital, em sua unidade em Curitiba. O SUS ainda não cobre esse tipo de procedimento.