Apenas 35% dos passageiros acreditam que o transporte coletivo de Curitiba melhorou. Dados que medem a qualidade do sistema não são divulgados
Um ano e dez dias depois de o transporte coletivo de Curitiba ser concedido à iniciativa privada por meio de licitação, cinco em cada dez passageiros de ônibus afirmam não ter percebido mudanças significativas na qualidade do sistema. É o que revela levantamento exclusivo da Paraná Pesquisas para a Gazeta do Povo. Ainda de acordo com a sondagem, 35% notaram alguma melhora e 12% acreditam que o sistema piorou.Um dos objetivos da concorrência pública era justamente aumentar a eficiência do serviço, medida por cinco itens previsto em edital: cumprimento de viagens no horário; satisfação do usuário com veículos e operadores; interrupção de viagens por falha; liberação de vistoria; e número de autuações.
Embora os critérios tenham sido estabelecidos, a Urbs, responsável pela administração do sistema de transporte, não divulgou os resultados. De acordo com a empresa, os números estão sendo contabilizados e devem ser disponibilizados em breve – sem data definida. “Os dados serão transparentes. Nós, da fiscalização, acompanhamos e os empresários estão buscando a melhoria”, afirma o diretor de Transportes da Urbs, Antônio Carlos Pereira Araújo.
O Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) diz já ter enviado os números à Urbs. Na avaliação do porta-voz do Setransp, Alexandre Teixeira, os usuários não perceberam grandes mudanças nesse período porque elas ocorreram na organização do transporte. “Muita coisa mudou e a população não foi afetada. Isso mostra o esforço para fazer a transição sem afetar o usuário”, diz. Entre as transformações, estão a readequação de garagens e da mão de obra, e a troca de veículos. No total, o sistema transporta aproximadamente 1,9 milhão de passageiros na Rede Integrada de Transporte (RIT).
Poderia ser melhor
Apesar de o sistema ter recebido avaliação positiva de 6 a cada 10 pesquisados, há fatores que precisam de melhoria, caso da lotação, do tempo de espera pelos ônibus e da segurança. “Os problemas estão se agravando. Brevemente, o sistema não vai mais ser modelo na opinião dos curitibanos”, afirma o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo. “No horário de pico, há dificuldade para diminuir a lotação em qualquer cidade do mundo. O sistema precisa ser planejado para as horas cheias e em horários mais vazios. Qualquer mudança nesse sentido será gradativa”, afirma Araújo.
Para Teixeira, a intenção é aumentar a velocidade do sistema, o que melhoraria o deslocamento dos veículos e diminuiria o tempo de espera. Em setembro, o Setransp apresentou dez sugestões à Urbs, como a criação de faixas exclusivas para ônibus, a readequação de trechos de difícil acesso e a introdução de novas linhas para dividir itinerários muito cheios, caso do Inter 2. “Estamos estudando para apresentar novas ideias”, diz o porta-voz.
Nos períodos mais movimentados, mesmo colocando mais ônibus nas ruas, não haverá diminuição do período de espera ou da lotação porque os veículos ficam parados no trânsito, explica o vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-PR), Orlando Pinto Ribeiro. “A melhor solução é propor um planejamento conjunto entre poder público e iniciativa privada para fazer com que o horário de saída do trabalho seja escalonado”, diz. A ideia é aprovada tanto pela Urbs quanto pela Setransp.
Para 42%, passageiros são mal-educados
Quatro em cada dez curitibanos avaliam como ruim ou péssima a educação dos usuários do transporte coletivo e somente 25% consideram o comportamento dos passageiros bom e ótimo. Apesar do tom crítico, 60% dos usuários afirmam não sentar em bancos reservados para idosos e gestantes, e praticamente 90% dos entrevistados dizem ceder o banco especial. Porém, a convivência com quem passa aproximadamente seis horas diárias nos ônibus ou estações-tubo não parece ser das melhores.
Quando é preciso esperar pelo troco, alguns xingam os cobradores. “Nós servimos como válvula de escape para muitos. Se precisam aguardar, chegam ao ponto de nos ofender, dizendo que somos lentos e por isso somos cobradores de ônibus”, conta Jorge Nilton Pereira, de 49 anos. Pereira destaca, contudo, que a maior parte dos usuários mantém relação amigável. “Diria que 80% são educados”, afirma.
Em tese, os idosos seriam os mais educados. Mas nem sempre a teoria se reflete na prática, segundo o cobrador Maicon (que preferiu não informar o sobrenome), de 21 anos. “Os idosos são campeões. Eles só podem passar pela catraca com a isenção se mostrarem algum documento com foto, mas, quando pedimos, somos insultados”, relata.
Campanhas
Na opinião do diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, a má avaliação da educação é um indício do que acontece no país. “A pesquisa só reflete a cultura do Brasil”, afirma. Uma das sugestões de Hidalgo é aproveitar o investimento em propaganda para focar em campanhas de educação. “Seria mais proveitoso o investimento no marketing educativo do que na propaganda do sistema em si.”
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