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18 de março de 2012

Após perder apoio na Câmara, Derosso agora “sofre” no Xaxim.

                      Após perder apoio na Câmara, Derosso agora “sofre” no Xaxim

Vereador, que renunciou à presidência da Casa em função de denúncias, é criticado por moradores de sua principal base eleitoral.Após os escândalos envolvendo a contratação irregular de empresas de publicidade para a prestação de serviços na Câmara de Curitiba, o ex-presidente João Cláudio Deros­­so (PSDB) parece ter perdido muito da sua popularidade no Xaxim. A reportagem da Gazeta do Povo visitou o bairro nesta semana e conversou com os moradores. A grande maioria afirmou que apoiava Derosso antes dos escândalos, mas que não pretende votar nele nas próximas eleições. O vereador renunciou ao cargo de presidente da Câmara na última segunda-feira, após nove meses de crise.

Para muitos, o sentimento é de decepção. Em 2008, 1.885 eleitores do bairro votaram em Derosso. Foram uma parte im­­portante dos 11 mil votos do vereador. “Ele era visto por mim e por muita gente aqui do bairro como um vereador idôneo. Agora que apareceram todos esses podres, já não parece mais tanto”, diz Julia Amorim, proprietária de uma loja de presentes no bairro. “Sempre votei nele. Votava nele. Hoje não voto mais”.

Os mais velhos contam que já votavam no pai do ex-presidente da Câmara, o ex-vereador João Derosso. “O pai dele tem e continua a ter moral com a gente. Cheguei a votar no Derosso, por causa do pai. A gente achava que estava fazendo bem”, comenta o marceneiro Arlindo de Matia. A decepção acaba não se limitando a Derosso. “Dá vontade de não votar em ninguém na próxima vez.”

Outros criticam a postura de Derosso no bairro e dizem que já manifestavam desconfiança com o vereador desde antes dos escândalos. “A gente sempre precisou dele e ele nunca deu força. Sempre olhou só para o Centro. Por mim, prefiro que ele fique fora [da Câ­­mara]”, comenta Marlene Cordeiro de Almeida, proprietária de uma lanchonete no bairro.

Além da decepção, as acusações também deixaram uma marca negativa no próprio bairro, na avaliação dos moradores. “Eu faço questão de não falar muito [sobre o assunto]. É chato, vêm pessoas do outro lado da cidade e perguntam ‘ah, mas você é vizinha do Derosso’. Eu me sinto envergonhada de ser vizinha do Derosso”, diz Marlene.

Eleitores fiéis
Entretanto, nem todos no Xaxim acreditam que Derosso seja culpado das acusações feitas ao longo dos últimos meses. Para Vilmar Perez, proprietário de uma loja de veículos, não é possível julgá-lo apenas pelo que é dito na imprensa. “Dessa briga política deles a gente não pode falar nada, pois a gente não sabe o que realmente aconteceu. Fica difícil julgar os outros por uma coisa que não se viu”, comenta. Ele elogia o trabalho de Derosso no bairro e revela que deve continuar votando nele, independentemente das acusações. “Quando o pessoal precisa de um conserto em uma rua, por exemplo, a gente fala com ele e sempre é atendido”, afirma.

Já J. H. P., dono de um bar na região, não acha que Derosso é inocente, mas acredita que ele está sendo julgado por erros cometidos por todos os vereadores. “Estão pegando ele para Cristo. Na minha opinião, acho que está como bode expiatório e mais nada”, comenta.

Nas conversas do bairro, as impressões sobre o apoio a Derosso se dividem. Alguns acreditam que a indignação da população é grande demais para que ele se reeleja. “Eles [os moradores] estão indignados com isso, achavam que ele ia para a Câmara fazer uma coisa certa, uma coisa justa. A gente coloca alguém na Câmara para fazer coisas boas para a cidade”, opina Marlene.

Já outros acreditam que o apoio de Derosso ainda é forte no bairro. “O problema do Derosso é que ele é como um time. Se o time cai para a segunda divisão, continuam torcendo. Tem uma porcentagem que não vai votar nele, mas têm outros que não adianta falar. Mes­­mo que eles vejam o cara pisando na bola, vão continuar votando”, afirma de Matia.

Moradores pedem segurança e obras
Apesar da indignação de muitos eleitores, a crise na Câmara de Curitiba não é a principal preocupação dos moradores do Xaxim. Para quem vive na região, o que realmente incomoda são os problemas do próprio bairro. A população reclama muito da falta de segurança e das ruas esburacadas, e tem problemas também com enchentes.

Para o comerciante Cláudio Francisco Panizzi, a criminalidade no bairro assusta. “Essa quadra de trás tem seis sobrados. Foram to­­dos arrombados em um só dia, uma sexta-feira, às quatro da tarde. Já fui três vezes assaltado, chamei a polícia e ninguém veio. É absurdo”, reclama. Panizzi critica, também, a falta de policiamento na região.

Situação parecida vive Vilmar Perez, proprietário de uma loja de veículos no bairro. “O problema aqui do Xaxim é a segurança. Nós mesmos fomos assaltados há dois meses. Levaram uma caminhonete nova, aqui na frente”, afirma. Ele também acha que o policiamento é insuficiente. Mas diz que, em parte, isso é culpa da falta de policiais na cidade. “Quando chamamos a polícia, eles até vêm, mas demoram. Não podemos botar a culpa neles, pois são poucos policiais. Mas demoram. Se for uma coisa urgente, é um problema”.
Buracos

Outro problema do Xaxim são as ruas esburacadas. Saindo das vias principais, a condição do pavimento é precária. Os remendos e buracos são visíveis e atrapalham a vida de quem mora e trabalha na região. “É muito buraco, um recapeamento em cima do outro. Isso acaba prejudicando [os moradores]. Já perdi duas rodas por causa desses buracos. Às vezes você não vê, está em cima e não tem como desviar”, comenta o vendedor Reginaldo dos Santos Magalhães.

As chuvas também trazem incômodos. O marceneiro Arlindo de Matia conta que um bueiro na praça Imer Colares Marques transborda frequentemente por causa de uma conexão mal planejada. “Quando vem qualquer chuva, não tem vazão. Daí a água sobe. Parece um gêiser, vem um monte de sujeira”, comenta. Com a sujeira, vem também o medo dos ratos e da leptospirose. De Matia conta que ligou diversas vezes para o 156, e o problema nunca foi resolvido.

A auxiliar de produção Maria Aparecida Mussanik também sofre com a chuva. Ela conta que, sempre que chove, a água invade sua casa e a casa de seus vizinhos. O apoio do poder público não chega. “A gente já ligou, reclamou, e eles não vieram. Eles falam que daqui a três anos vão colocar asfalto, daqui a três anos vão resolver, passa o tempo e eles não fizeram nada. Faz 12 anos que eu moro ali e não fizeram nada”, afirma.

Apesar disso, nem só de problemas vive o Xaxim. Quem mora na região mostra orgulho de pertencer ao bairro e faz questão de morar lá. “O Xaxim é um lugar bom para se morar, o pessoal é muito unido”, afirma o líder comunitário Apare­­cido Domingos de Araújo, o Cidão.



 
Reduto
Região é o “berço” de parlamentar
O Xaxim é a casa do vereador João Cláudio Derosso (PSDB). Entretanto, as urnas mostram que, apesar de se tratar de seu principal reduto, os eleitores do bairro não têm tanta influência na sua votação quanto se pensa. E mais: ele nem sequer foi o vereador mais votado do bairro em 2008.

Nas últimas eleições, os eleitores do Xaxim deram 1.885 votos ao ex-presidente da Câmara. Trata-se de uma votação expressiva, equivalente a 16,8% do total de votos que recebeu naquele ano – 11.189. Entretanto, mesmo sem os votos do Xaxim, ele se elegeria vereador com facilidade. Seriam 9,3 mil votos, quase o dobro, por exemplo, dos de Odilon Volkmann, que se elegeu também pelo PSDB.
Apesar de sua forte ligação com a região, Derosso ficou em segundo lugar nas eleições de 2008. Alavancado para a política pelo deputado estadual Mauro Moraes (PSDB), o também tucano Beto Moraes fez 2.439 votos no bairro.

Ligação
A história da família Derosso é muito ligada ao Xaxim. Prova disso é o nome da principal via de acesso à região, a Rua Francisco Derosso – homenagem ao avô do vereador. O bairro foi importante também para a ascensão de João Derosso, pai de João Cláudio, que por 25 anos também foi vereador. (CM)

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