Apesar de capacitados, dois terços dos municípios do estado não têm ambulatórios públicos para tratar viciados em cigarro
Menos de um terço dos municípios paranaenses possuem grupos públicos de apoio para ajudar as pessoas a abandonarem o vício do cigarro. Das 399 cidades, apenas 120 abrigam ambulatórios para tratamento de viciados em tabaco e nicotina. A lacuna no apoio aos fumantes resulta da falta de empenho dos gestores locais: desde 2004 uma portaria do Ministério da Saúde autoriza todas as unidades básicas de saúde, independentemente do nível de especialidade, a implantar os ambulatórios antitabagismo. A única exigência é que os profissionais tenham sido capacitados para a função.
De acordo com a coordenadora do controle ao tabagismo da Secretaria Estadual de Saúde, Iludia Rosa Linski, todas as 22 regionais de saúde tiveram profissionais capacitados para esse tipo de atendimento. Em troca, a Secretaria esperava que todos os municípios se engajassem em implantar os ambulatórios. “Se a pessoa for procurar tratamento e a cidade não disponibilizar, ela pode denunciar através da nossa Ouvidoria. É um direito da população ter esse tratamento gratuito”, ressalta. O telefone da Ouvidoria da secretaria é 0800 644 44 14.Conforme o diretor do controle ao tabagismo do Instituto do Câncer (Inca), Ricardo Meirelles, é obrigação do município implantar grupos de apoio. “Cabe às cidades adotarem políticas públicas para prevenir e eliminar o tabagismo. O município tem de se sensibilizar e se organizar contra essa doença”, diz.
Medidas
O vício, comum a 15% da população brasileira, segundo pesquisa do Ministério da Saúde de 2010, é responsável por mais de 50 tipos de doenças e pela morte de aproximadamente 200 mil pessoas por ano em todo o país.
Para evitar o aumento no índice de óbitos decorrentes do tabagismo, diversas medidas estão sendo adotadas pelo poder público, como a proibição do fumo em ambientes fechados e a adoção de uma política que amplia gradativamente o preço do maço do cigarro. Em meio a essa batalha, os grupos de apoio assumem papel fundamental para tratar os viciados e também prevenir que novas pessoas se tornem tabagistas.
Para conseguir extinguir o vício é necessário atacar principalmente a dependência psicológica e química. Entretanto, o viciado tem de desejar parar de fumar. “Não existe um remédio que faça a pessoa parar de fumar: é preciso força de vontade”, afirma Iludia Linski. Quando a vontade de parar existe, os grupos de apoio fazem toda a diferença ao ajudar na definição de metas e disciplinar o combate à dependência.
Funcionamento
O tempo de tratamento dentro desses grupos é de um ano. Para montar uma equipe é necessário, pelo menos, um médico responsável, um assistente social e um psicólogo. No primeiro mês, são realizados quatro encontros, geralmente em grupos, nos quais são discutidos os benefícios de uma vida sem cigarro e realizados exames médicos. Nesse período, a pessoa deve agendar uma data para parar de fumar. “A parada abrupta do fumo tem sucesso maior que a gradual. Essa data deve ser marcada entre a segunda e a terceira semana após o ingresso da pessoa no grupo”, diz Ricardo Meirelles. No segundo mês de tratamento, o viciado comparece a dois encontros. A partir do terceiro mês é realizado um encontro mensal.
Dependência do tabaco por quatro décadas desapareceu em um mês
Paulo Koroviski, de 58 anos, foi viciado em cigarro por quatro décadas. Há quatro anos, ele conseguiu, com ajuda do grupo antitabagismo de Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, abandonar o tabaco. Hoje, o funcionário público conta que não sente o mínimo desejo de fumar. “Não suporto nem o cheiro, me dá nojo”, conta.
Ele buscou ajuda quando percebeu que a respiração estava cada vez pior. “Mas, o que me tocou mesmo foi quando meu netinho de três anos disse para eu ‘largar essa porcaria’. Aí não teve jeito. Busquei ajuda, tomei medicamentos por um mês, não precisei usar adesivo de nicotina e larguei o vício”, relata.
Paulo, que nunca tinha tentado parar de fumar, ingressou no programa em outubro de 2007. “Fui parando gradativamente até largar o cigarro no dia 6 de novembro daquele ano”, diz.
Hoje, ele fala que tudo melhorou em sua vida. “Minha saúde é outra coisa, sinto o cheiro das coisas, o gosto da comida e minha roupa não fica mais com cheiro forte de cigarro”, ressalta.
Cravo, escova de dentes e balas dietéticas são armas
Quando o fumante decide largar o vício, é natural que ainda sinta vontade de acender um cigarro, principalmente nos primeiros dias. Para ajudar a suportar esse desejo, especialistas dão algumas recomendações: beber mais água, chupar balas dietéticas, comer frutas e praticar exercícios físicos. “Evitar o café também ajuda a segurar o desejo de fumar. Muitos não param por medo de engordar, então o segredo é substituir a vontade do tabaco por alimentos de baixa caloria”, explica Iludia Rosa Linski.
Outra dica dada pelo professor da UnB, Carlos Alberto Viegas, é escovar os dentes logo após as refeições. “Muitos sentem prazer em fumar depois de comer: ao escovar os dentes, a vontade diminui. Outra opção é mascar cravo, que amortece um pouco a boca e elimina o desejo. Fazer atividades físicas também ajuda a pessoa a ficar sem vontade de fumar”, afirma.
Anvisa quer proibir adição de aromas a cigarros
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quer proibir a comercialização de cigarros aromatizados. O órgão quer comprovar que esses produtos incentivam o consumo precoce do tabaco, já que o gosto da nicotina fica camuflado. No ano passado, Estados Unidos e Canadá barraram esse tipo de cigarro.
Atualmente, esses cigarros são encontrados em diversos sabores, como menta, cereja, chocolate, cravo e baunilha.
Precocidade
Segundo Instituto Nacional do Câncer (Inca), 44% dos estudantes brasileiros entre 13 e 15 anos que fumam regularmente preferem os aromatizados. Ainda de acordo com o Inca, o porcentual de pessoas que começaram a fumar com menos de 20 anos é de 79%.
Mudanças
Grupos usam adesivo, goma e remédio contra vícioPara poder controlar a dependência, os ambulatórios públicos disponibilizam adesivos e gomas de nicotina. “Também existem remédios químicos. Os medicamentos não são destinados a todos os viciados. Apenas a quem tem um grau de dependência considerado elevado, que fuma há muito tempo ou que fuma um maço ou mais por dia”, diz a coordenadora do controle ao tabagismo da Secretaria Estadual de Saúde, Iludia Rosa Linski.
O diretor do Inca, Ricardo Meirelles, explica que as gomas e adesivos controlam a dependência química. “O cérebro vai sentir falta dessa substância. Temos que habituar o organismo a viver gradualmente sem a nicotina. Os remédios, por sua vez, controlam a ansiedade e a depressão, efeitos colaterais de quem abandona o vício”, afirma.
Outra medida que deve ser tomada pelo dependente, segundo Carlos Alberto Viegas, pós-doutor na área e professor da Universidade de Brasília (UnB), é a necessidade de a pessoa mudar suas rotinas. “Em um grupo, o fumante compreenderá mais sobre seu comportamento, em quais momentos ele procura o cigarro e o que deve ser alterado para largar o vício”, diz.
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